Júnior SantosMaria da Luz, professora temporária, está apreensiva com anúncio
"A Educação é um serviço público essencial. Dever do Município e direito da criança. A Prefeitura não pode cortar os professores temporários e deixar as crianças sem aula". Foi desta forma que a promotora da Educação, Zenilde Alves, analisou o anúncio do secretário Walter Fonseca de que seria necessário reduzir o número de professores contratados de 308 para 140 com o intuito de diminuir os custos com a folha de pagamento de pessoal do Executivo Municipal.
Uma das saídas para o imbróglio, conforme argumentou a promotora, é reduzir as despesas cortando, por exemplo, as custas com os cargos comissionados municipais. "Existem outras formas de reduzir o impacto com a folha. Uma delas é esta", destacou Zenilde Alves.
O cumprimento da decisão dao Município em reduzir o número de docentes temporários foi comunicado à promotora via ofício assinado por Walter Fonseca. "O ofício pedia que a Promotoria se debruçasse sobre a questão", esclareceu a promotora.
Para ela, a única solução legal que pode ser adotada pelo Município, ao invés de demitir, é deflagrar um procedimento de contratação emergencial de professores temporários para que o serviço não seja interrompido. Este processo, porém, deverá ser feito através de concurso.
A falta de professores é um problema comum em Escolas e Centros de Educação Infantil mantidos pela Municipalidade. Na tentativa de regularizar a situação, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) será confeccionado pelo MP para ser assinado pela Prefeitura do Natal.
Segundo a promotora, existe um déficit considerável de professores temporários na rede municipal de Educação. A SME conta hoje com cerca de 3.500 professores efetivos, 311 temporários e 120 seletivos, conforme informações do Setor de Recursos Humanos. Os temporários e seletivos ocupam vacâncias de docentes efetivos licenciados e até mesmo vagas em aberto.
Entre 2010 e 2011, um outro TAC foi expedido pelo MP e acatado pela Prefeitura. Àquela época, o órgão ministerial determinava um quantitativo máximo de professores temporários que poderiam ser contratados, além da abertura de um novo processo seletivo para contratação de efetivos. O último certame com este fim foi realizado em 2008 e teve a validade estendida até 2010.
A promotora Zenilde Alves alegou que não existem mais pedagogos aprovados no último concurso da SME a serem convocados para o preenchimento de vagas de professor polivalente, que são justamente os que poderão ser demitidos pelo Município para reduzir custos com a folha. Zenilde Alves explicou que, apesar de 2012 ser um ano eleitoral, no qual todos os processos seletivos devem estar prontos três meses antes da votação, a Municipalidade não fica impedida de iniciar um certame.
"O TAC será feito para oficializar a contratação emergencial dos professores e, também, para garantir a abertura de um processo seletivo ainda em 2012 para contratação de efetivos e temporários. Nosso objetivo é iniciar 2013 sem estes problemas", ressaltou a promotora. Reiteradas vezes, Zenilde Alves disse que a Educação municipal não pode ser prejudicada com a determinação de reduzir custos para que o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) não seja extrapolado.
Prefeitura também quer corte nas funções terceirizadas
Com aproximadamente 400 alunos da educação fundamental divididos em dois turnos, a Escola Municipal Profª Malvina Cosme, no Conjunto Santa Catarina, será uma das que enviará ofício comunicando ao secretário Walter Fonseca que não poderão "dispensar" nenhum dos professores temporários. O problema de falta de docentes na unidade fez com que duas coordenadoras, uma do turno matutino e outra do vespertino, voltassem à lecionar.
"Em 24 anos de Município, é a primeira vez que passo por uma situação dessas", afirmou a diretora Ana Célia Ferreira. Na manhã de ontem, ela e a vice-diretora trabalhavam na confecção do documento que será entregue à Secretaria Municipal de Educação hoje. Além da necessidade de cortar o número de professores temporários, cada escola deverá reduzir a quantidade de funcionários terceirizados, que geralmente trabalham na limpeza e cozinha das escolas. Na Malvina Cosme, por exemplo, de 14 terceirizados deverão ficar sete. "Nós teremos que ampliar a carga horária dos que ficarem", confirmou a diretora.
A professora Maria da Luz Eufrásio de Oliveira, que trabalha como temporária há três anos, recebeu a notícia com apreensão. "A gente sofre uma pressão muito grande. Nunca vai deixar de existir a necessidade de contratar temporários. Não conseguimos entender esta decisão do Município", lamentou. Ela relatou que a angústia em relação à incerteza da manutenção do trabalho que desempenha, acaba refletindo no rendimento em sala de aula. "Imagine trabalhar sabendo que amanhã você não poderá estar mais aqui. E a minha vida, minhas contas", indagou enquanto lecionava.
Ao longo do dia de ontem, o titular da Secretaria Municipal de Planejamento, Antônio Luna, foi procurado para explicar os motivos pelos quais o Município está prestes a atingir o limite da LRF. O secretário, porém, não atendeu ou retornou as tentativas de contato telefônico. A assessoria de imprensa do Município afirmou que enviaria o posicionamento oficial da prefeita Micarla de Sousa sobre o assunto. O que não ocorreu, entretanto, até o fechamento desta edição.
Fonte: Tribuna do Norte
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