domingo, 3 de junho de 2012

"Sensualidade vem de dentro"

Quando ela chegou para entrevista já foi dando uma mostra da sua praticidade. Sugeriu um pequeno cenário para conversa, sentou e logo começou a falar de forma muito espontânea e natural. O assunto: sexo, fetiches e os desejos de homens e mulheres. A sexóloga Laura Muller, conhecida nacionalmente por sua participação no programa Altas Horas, fala com clareza. A voz tem um ritmo apressado, mas não por isso compromete o entendimento do espectador, que tem o interesse fomentado a cada foco abordado por Muller. 

A sexóloga aborda as questões de sexo, fetiches e desejos de forma muito clara. Demitifica alguns aspectos, endossa outros e ressalta que na terceira idade é possível sim sentir desejo. "Depende da vida de cada um. A gente pode sentir desejo sim na terceira idade. O que acontece é que temos muito preconceito. A pessoa na terceira idade, as vezes, tem preconceito com ela mesma e acha que ela não pode viver esse prazer sexual", afirma ela, que esteve em Natal para participar de evento promovido pela Dumont, loja de calçados instalada no Midway Mall. 

O trabalho de Laura Muller ganhou uma nova projeção a partir da sua participação freqüente no Altas Horas. Prova é que hoje viaja todo país ministrando palestras e foi contratada por uma rede de sapatos para falar as clientes na relação do sapato com o fetiche." "O fetiche é uma atração que a gente sente por uma parte do corpo ou por uma peça do vestuário; como o fetiche para calçados", observa a sexóloga. Mas ela pondera que para se sentir sensual, fundamental, é a mulher estar a vontade com a peça, com a roupa que está usando. "São muitos fetiches, cada um tem seu jeito, sua maneira e o mais bacana é a gente se respeitar, os nossos desejos, nossas expectativas, nosso jeito de ser e também o que é ou não atraente ao nosso olhar", destaca. 
Celson LuisLaura Muller é psicóloga clínica e comunicadora social. Como jornalista atuou na Folha de São Paulo, e em algumas revistas. Ela foi editora de Emoções e Sexo da Revista Claudia, onde atuou de 1997 a 2001. Escreveu três livros, o mais recente é "Altos papos sobre sexo dos 12 aos 80 anos". Laura Muller profere palestras por todo país e e participa do programa Altas Horas, da Rede Globo.

O 3 por 4 de hoje é um convite a conversar sobre fetiches, desejos, sexo, de forma aberta e sem preconceitos. Com vocês a análise e as ponderações da sexóloga Laura Muller: Você tem percorrido o Brasil, ministrando palestras onde aborda a relação do "fetiche com sapato". O que um influência no outro?
O fetiche é uma atração que a gente sente por uma parte do corpo ou por uma peça do vestuário; como o fetiche para calçados. Os calçados mexem muito com a imaginação, o desejo. Fetiche é uma das facetas a nossa sexualidade, que é esse desejo, essa atração por uma parte do corpo ou uma peça do vestuário.

A mulher tem atração por sapato. Mas o homem valoriza o sapato da mulher?
Ambos (mulheres e homens) têm atração por sapatos, principalmente pelos calçados femininos. Veja o exemplo do salto. Por que ele mexe tanto com a nossa imaginação? O salto coloca  a mulher numa postura mais erótica, impina o bumbum, impina os seios e a mulher se sente mais poderosa, mais sedutora. Para a mulher o salto mexe com a imaginação, com a sensualidade e também atiça. Mexe (o salto) com a sensualidade e a imaginação de quem está olhando. 

Qual a relação que você faz entre sensualidade, a beleza da mulher e esses fetiches?
Está tudo meio junto. Agora importante dizer que a sensualidade, para a gente se sentir sensual, ter uma sensualidade bacana a gente precisa se sentir sensual. É algo que vem de dentro. Não adianta nada você comprar um sapato, uma lingerie ou o que for, uma peça qualquer que não tenha relação com você ou você não se sinta bem usando aquilo. Sensualidade é algo que vem de dentro. E são muitos fetiches, cada um tem seu jeito, sua maneira e o mais bacana é a gente se respeitar, os nossos desejos, nossas expectativas, nosso jeito de ser e também o que é ou não atraente ao nosso olhar.

Ou seja, o tornar sensual a mulher não vem só com o objeto, mas também com o estado de espírito?
É. Não dá para vir de for, tem que vir de dentro. A sensualidade precisa vir de dentro para ela ser genuína, verdadeira e para a mulher se sentir bem e poder viver bem essa sensualidade.

Seu último livro traz "Altos Papos sobre Sexo - dos 12 aos 80 anos". O que há de comum e de diferente entre faixas etárias tão distintas?
Dos 12 aos 80 o que a gente pode pensar é que são as diferentes etapas do nosso amadurecimento. Aos 12 a gente ainda não vai viver o sexo. Nessa fase eu vou falar de sexualidade, que é quando a gente tem um empurrão hormonal. Nessa fase (dos 12 anos), em geral, as meninas têm a primeira menstruação e os meninos tem a primeira ejaculação espontânea. Isso significa que as meninas já estão liberando o óvulo, que pode ser fecundado e ela pode engravidar. Nessa fase o menino já está produzindo espermatozóide. No livro eu vou contando as fases. Primeiro a pré-adolescência com essas mudanças corporais, depois a fase da adolescência, da iniciação sexual que no Brasil se dá entre 15 e 17 anos de idade, segundo pesquisa do Ministério da Saúde e da Educação. Depois vem a fase adulta jovem, adulta madura e terceira idade. E aí, no livro, eu falo sobre sexualidade em geral, desejo, excitação, orgasmo, prática sexual, sexo no casamento, sexo no namoro, sexo durante a gravidez, a questão da menopausa e as mudanças hormonais ao longo da vida. Enfim, poderia dizer que em comum nisso tudo é que para a gente viver o sexo a gente pode viver a vida inteira basta sentir desejo, mas a gente precisa respeitar as etapas e os limites. Isso seria o que a 
gente têm em comum em todas as fases.

Chama atenção quando você estabelece os 80 anos. Temos a ideia de que na terceira idade as pessoas perdem o desejo.
Não necessariamente. Depende da vida de cada um. A gente pode sentir desejo sim na terceira idade. O que acontece é que temos muito preconceito. A pessoa na terceira idade, as vezes, tem preconceito com ela mesma e acha que ela não pode viver esse prazer sexual. Mas pode sim. Vai precisar de alguns ajustes, alguns ajustes ali na cama, não vai ter o corpo dos 20 anos de idade,  mas vai ter tempo e maturidade para poder viver o sexo com prazer.

E o que há de mais diferente nessas fases? O desejo?
Não, não o desejo. Acho que as diferenças seriam essas. Cada fase é marcada por uma coisa. A fase da pré-adolescência é marcada pelas transformações corporais, pelo empurrão hormonal. A fase da adolescência é marcada pela iniciação sexual. A fase do adulto jovem é o momento em que a gente vai entrar no mercado de trabalho, em uma carreira e vai estar com o corpo no auge do desenvolvimento corporal e podendo sim viver o sexo de uma forma cada vez mais saudável e prazerosa. O adulto maduro daqui a pouco já vai estar entrando numa menopausa ou o homem em uma andropausa, que é a fase de mudança hormonal e vai requerer alguns ajustes. E a terceira idade é o momento em que também pode viver o prazer sexual, o corpo vai estar envelhecendo, mas tudo vai depender da cabeça.

Sexo segura ou naufraga casamento?
Depende  do significado que cada casal dá para o sexo e para o casamento.

Mas qual a responsabilidade que tem o sexo no casamento?
Tem casais que podem querer viver o sexo no casamento e tem casais que não. Isso vai variar muito. Tem casal que a relação amorosa por si só basta sem sexo, a gente não precisa obrigatoriamente viver o sexo. Mas tem casal que precisa, que quer curtir o prazer sexual. O que eu digo é que não há regra, cada casal vai encontrar seu ajuste e isso é o que será saudável para o relacionamento.

Muitos sexólogos costumam dizer que o sexo para a mulher tem um valor e para o homem tem outro. Você concorda?
Por muito tempo foi assim. A gente vem de uma cultura machista e por muito tempo a sexualidade da mulher foi bem mais reprimida que a do homem. Mas hoje isso está mudando. Não podemos esquecer que vivemos nessa sociedade ainda conservadora e que a gente tem diferença, tanto mulheres como homens tem potencial para sentir desejo e prazer. Mas fruto dessa nossa cultura e dessa educação sexual mais repressora com a sexualidade feminina a gente percebe e vê em pesquisas mulheres enfrentando dificuldades maiores na cama do que homem. Por exemplo, a dificuldade de chegar a orgasmo. 30% das mulheres têm essa dificuldade.

Por que ela ocorre?
Essa dificuldade de orgasmo é a principal dificuldade sexual feminina. Ela acontece por uma série de fatores, mas em geral pelo emocional. O orgasmo está relacionado com entrega, conhecer o próprio corpo e estar bem ali no relacionamento, é um dar e receber prazer. Quanto mais confortável a mulher estiver com seu próprio corpo, conhecendo seus mecanismos de prazer, quanto mais ela estiver confortável na relação, mas intenso será o prazer e mais facilmente ela chegará ao orgasmo.

O que sua participação no Altas Horas (programa da Rede Globo) mudou na sua carreira profissional?
Basicamente a grande transformação é que trabalho com educação sexual há algum tempo e sexo ainda é assunto tabu na nossa cultura. Com a entrada no Altas Horas ficou mais fácil conseguir fazer palestras. Hoje faço palestras pelo Brasil afora. E já houve um tempo em que as pessoas tinham medo, o que eu iria falar, o que não iria falar. Com a abertura do Altas Horas as pessoas vêem que é um assunto saudável e dá para gente trabalhar de forma franca, aberta, bacana, esclarecedora. Isso é o principal. Com as palestras que a gente dá em educação sexual são ações importantes para gente ampliar o olhar e olhar para sexualidade de forma mais saudável e prazerosa. O Altas Horas me ajuda a abrir essas portas.



Fonte: Tribuna do Norte

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