sexta-feira, 18 de maio de 2012

O corpo como veículo de arte

Yuno Silva - Repórter

Apontando todo seu arsenal contra tabus artístico, a segunda edição do Circuito Regional de Performance Bodearte entra em cena nesta próxima segunda-feira (21) com extensa programação e a intenção de desmistificar a mais subversiva e incompreendida das linguagens. Pronto para abrir uma das muitas caixas ainda guardadas por Pandora, o evento promove atividades até o próximo sábado (26), e ocupa o IFRN-Cidade Alta e as ruas do centro da cidade com performances, mostra de vídeos, exposições fotográficas, palestras e debates. A programação é toda gratuita e acontece das 9h às 21h.

DivulgaçãoCircuito Bodearte reúne cerca de 50 trabalhos de todo o BrasilCircuito Bodearte reúne cerca de 50 trabalhos de todo o Brasil
O Circuito é resultado da articulação capitaneada pelo Coletivo ES3, e reúne cerca de 50 artistas de todo Brasil. Professores, pesquisadores e teóricos também estão vindo de outros estados para conduzir palestras e participar de debates que deverão contribuir com a consolidação do entendimento da Performance (com P maiúsculo) como uma linguagem independente. 

"O Bodearte visa  formar público, promover o intercâmbio entre os participantes e, principalmente, abrir um diálogo sobre o artista, sua obra e a relação com o público. São nossos principais focos", disse Chrystine Silva, integrante do ES3 ao lado de Felipe Fagundes, André Bezerra e Yuri Kotke.

O Coletivo ES3 também incorporou a missão de mapear e criar uma Rede Nordeste de Performancers. "As pessoas precisam se conhecer, tem gente produzindo na Paraíba que não sabe o que acontece em Pernambuco ou aqui no RN", diz Fagundes. O artista acredita que o evento deve "ajudar a desmistificar a forma como o público entende e enxerga a performance". Segundo ele, para a maioria das pessoas a performance ainda é coisa "de doidinho" que desconhece "todo um embasamento teórico e um processo criativo que transcende essas impressões". 

DivulgaçãoEvento reflete a performance enquanto linguagem independente.Evento reflete a performance enquanto linguagem independente.
Durante a programação, justamente para reforçar essa intenção de formar público, muitos artistas irão reservar uma parte do tempo para conversar com a platéia após as apresentações.

Outro fator importante do Circuito, na opinião 
de Chrystine, é a possibilidade do encontro presencial e do intercâmbio estético entre artistas "que já se conhecem através da internet". Inclusive, a participação no Circuito está vinculada, de certa maneira, a uma interação prévia no Fórum mantido pelo Coletivo ES3. "Como trabalhamos na perspectiva de uma não-curadoria, a presença dos artistas parte do pressuposto de um diálogo prévio, então a programação acaba sendo montada por uma afinidade natural dos artistas", ressaltou Felipe. 

Boa parte dos performers chegaram em Natal por conta própria, e estão hospedados na casa de pessoas que abriram a casa para "adotar um Bode" durante o evento. Vela registrar que a programação inclui não apenas as apresentações presenciais, como também a exibição de vídeo performances. 

Performance: "hacker das linguagens artísticas"

Alberto LeandroArtistas do Coletivo ES3, grupo que nasceu no Dearte da UFRNArtistas do Coletivo ES3, grupo que nasceu no Dearte da UFRN
Entre os convidados que marcam presença em Natal a partir da próxima semana, destaque para os professores Otávio Donasci e Lúcio Agra, ambos de São Paulo e vistos como especialistas do assunto no país. Já a oficina com o diretor potiguar de teatro Marcos Bulhões, espécie de mentor do Coletivo ES3 quando atuou como professor do Departamento de Artes da UFRN, foi cancelada. Atualmente Bulhões mora na capital paulista e sua vinda acabou não sendo viabilizada. 

"Essa falta de apoio reflete a necessidade de afirmar e configurar a Performance enquanto vertente independente, e não como um adendo das artes visuais, da dança ou do teatro", observou Felipe Fagundes. "Um bom exemplo dessa falta de compreensão é a forma como os editais públicos tratam a Performance, que sempre está relacionada em 'outros'", emenda Chrystine Silva.

Como essa afirmação também esbarra em articulações políticas, o Coletivo ES3 redigiu um documento, encaminhado ao Fundo Estadual de Cultura, onde faz reivindicações e chama atenção para a necessidade do reconhecimento. "A Performance precisa ser vista como linguagem própria da arte, que muitas vezes é um experimento, não se repete, é efêmera. Então temos vários pontos em comum com outras vertentes, mas muitos pontos de atrito, por isso criamos essa carta informando que existe produção de performances em Natal e no Nordeste que precisa sair do anonimato, da invisibilidade. O importante não é tirar o lugar do outro e sim acrescentar uma nova cadeira", analisa André Bezerra.

Como não existe uma definição simplificada do que é Performance, uma 'coisa artística amorfa e quase mutante', o artista Yuri Kotke sintetiza: "Uma das definições para performance que gostamos de considerar é de que ela é a 'hacker' das linguagens artísticas. Ela pega algo (a dança, o teatro, o vídeo) que já tinha uma utilidade 'x' e muda essa função para 'w', 'y' ou 'z'". 

PROGRAMAÇÃO

DivulgaçãoPerformance Não Pise na dama, com Carol Piñeiro e Juão Nin, está na programação de quarta-feiraPerformance Não Pise na dama, com Carol Piñeiro e Juão Nin, está na programação de quarta-feira
Segunda-feira (21)

09h às 21h - Performance "quatromilduzentosessanteecincojpgs", de Lúcio Agra

15h - Exposições fotográficas "Retratos de Infância", de Ramilla Souza; "Passagens da vida de Gabriel", de Gabriel Brito Nunes; "Traje do Paulistano", de Tábata Costa; e "Estudos para habitar o In.Cômodo", de Mi Rodrigues

17h30 - Lançamento da Revista Reticências 

19h - Performance "Tortura", de Pam Guimarães

19h30 - Performance "Dança clássica de hoje ou passatempo facista - ménage Kassab, Sarney e Collor", de Marcelo Gandhi

Terça-feira (22)

9h às 21h - "I like Nordeste and Nordeste likes me", de Grasiele Sousa

14h - "Kombunda", do grupo Corpos Informáticos

15h - Mostra de Vídeos: "À espera", de Andréa Aparecida; "A plebe do crediário", de Isaque Ribeiro; "Veia" e "Balada do corpo classificado: arquivo" de Christina Fornaciari; "Animal laborans", do Coletivo Parabelo; "Despedida", de Maicyra Leão; e "Efeito colateral", de Charlene Sadd

16h15 - Palestra "30 anos de Videocritaturas", de Otávio Donasci

19h - Performance "Gordo Pass. 94036546", de Jota Mombaça

20h - Performance "Um uísque para o rei Saul", com o Grupo Estandarte



Fonte: Tribuna do Norte

0 comentários:

Postar um comentário