"É ele mesmo!". "Nem acredito!". "Lindo!". Combinadas, não necessariamente nessa ordem, essas três interjeições sintetizam o sentimento misto de incredulidade e êxtase que pairou sobre o público (principalmente o feminino) que lotou o Teatro Riachuelo nesta segunda-feira (28) para acompanhar o primeiro dos dois shows de Chico Buarque em Natal. O cantor e compositor carioca não pisava em solo potiguar há exatos 28 anos, desde a época da campanha pelas Diretas Já em 1984, e sua apresentação no RN era um desejo antigo, acalentado com expectativa pela legião de fãs que não titubeou em garantir um lugar mesmo diante do preço do ingresso (entre R$ 360 e R$ 380) - há mais de um mês os três mil lugares disponíveis estão esgotados.
Yuno SilvaChico Buarque durante show em Natal no Teatro Riachuelo
Para permitir a acomodação de toda a plateia com tranquilidade, o início do show foi prorrogado em 30 minutos, um atraso mínimo para quem quem esperou por quase três décadas a oportunidade de ver de perto, ao vivo e a cores, um dos maiores ícones da MPB. Ao final do terceiro toque, antes do apagar das luzes, era nítida a ansiedade no olhar das pessoas atentas a todo e qualquer movimento no palco. Por trás do cenário móvel, um painel em preto e branco com traços econômicos, a banda estava pronta; na plateia, mãos inquietas pelo aplauso e letras na ponta da língua aguardavam a hora de entrar em ação. Camuflado no fundo do palco, com seu recorrente figurino preto, Chico apenas observava e aguardava a hora certa de entrar em cena.
Com seu peculiar ar de nobreza e uma timidez que não permite extrapolar um milímetro sequer do cronograma planejado, Chico Buarque surge escoltado por uma efusiva salva de palmas e vai direto ao assunto - música! Chegou, pegou seu violão, abriu o show com "O velho Francisco" (Já gozei de boa vida / Tinha até meu bangalô / Cobertor, comida / Roupa lavada / Vida veio e me levou...), seguiu todo o repertório anunciado, e saiu do jeito que entrou: calado e sorridente.
Econômico nas palavras, Chico Buarque não improvisou, apenas agradeceu e sorriu. Dividiu os vocais com o baterista Wilson das Neves em duas músicas, "Sou eu" e "Tereza da praia", e o pouco que falou foi para apresentar banda e nada mais. Mesmo o bis duplo (sim, ele voltou duas vezes ao palco antes de se despedir definitivamente) estava dentro do previsto.
A técnica perfeita do espetáculo, onde não há brecha para deslizes ou notas fora de lugar, comprovam o alto nível da performance. Som cristalino, iluminação elaborada, cenário simples e bonito, banda de instrumentistas experientes que já tocam com Chico Buarque há décadas e uma plateia disposta a qualquer comando do artista. Ou seja, Chico entrou em campo com o jogo ganho, e manteve o público sob total controle durante as pouco mais de duas horas de apresentação.
A turnê nacional de "Chico", nome do novo disco e deste show, está em cartaz desde novembro do ano passado, já foi vista por quase 130 mil pessoas e a passagem por Natal encerra a temporada. Diante do que foi apresentado uma coisa é certa, o ingresso valeu cada centavo do investimento.
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