terça-feira, 29 de maio de 2012

A magia musical de Chico Buarque

Yuno Silva - repórter

"É ele mesmo!". "Nem acredito!". "Lindo!". Combinadas, não necessariamente nessa ordem, essas três interjeições sintetizam o sentimento misto de incredulidade e êxtase que pairou sobre o público (principalmente o feminino) que lotou o Teatro Riachuelo nesta segunda-feira (28) para acompanhar o primeiro dos dois shows de Chico Buarque em Natal. O cantor e compositor carioca não pisava em solo potiguar há exatos 28 anos, desde a época da campanha pelas Diretas Já em 1984, e sua apresentação no RN era um desejo antigo, acalentado com expectativa pela legião de fãs que não titubeou em garantir um lugar mesmo diante do preço do ingresso (entre R$ 360 e R$ 380) - há mais de um mês os três mil lugares disponíveis estão esgotados.

Yuno SilvaChico Buarque durante show em Natal no Teatro RiachueloChico Buarque durante show em Natal no Teatro Riachuelo
Para permitir a acomodação de toda a plateia com tranquilidade, o início do show foi prorrogado em 30 minutos, um atraso mínimo para quem quem esperou por quase três décadas a oportunidade de ver de perto, ao vivo e a cores, um dos maiores ícones da MPB. Ao final do terceiro toque, antes do apagar das luzes, era nítida a ansiedade no olhar das pessoas atentas a todo e qualquer movimento no palco. 

Por trás do cenário móvel, um painel em preto e branco com traços econômicos, a banda estava pronta; na plateia, mãos inquietas pelo aplauso e letras na ponta da língua aguardavam a hora de entrar em ação. Camuflado no fundo do palco, com seu recorrente figurino preto, Chico apenas observava e aguardava a hora certa de entrar em cena.   

Com seu peculiar ar de nobreza e uma timidez que não permite extrapolar um milímetro sequer do cronograma planejado, Chico Buarque surge escoltado por uma efusiva salva de palmas e vai direto ao assunto - música! Chegou, pegou seu violão, abriu o show com "O velho Francisco" (Já gozei de boa vida / Tinha até meu bangalô / Cobertor, comida / Roupa lavada / Vida veio e me levou...), seguiu todo o repertório anunciado, e saiu do jeito que entrou: calado e sorridente. 

 
Econômico nas palavras, Chico Buarque não improvisou, apenas agradeceu e sorriu. Dividiu os vocais com o baterista Wilson das Neves em duas músicas, "Sou eu" e "Tereza da praia", e o pouco que falou foi para apresentar banda e nada mais. Mesmo o bis duplo (sim, ele voltou duas vezes ao palco antes de se despedir definitivamente) estava dentro do previsto.  



A técnica perfeita do espetáculo, onde não há brecha para deslizes ou notas fora de lugar, comprovam o alto nível da performance. Som cristalino, iluminação elaborada, cenário simples e bonito, banda de instrumentistas experientes que já tocam com Chico Buarque há décadas e uma plateia disposta a qualquer comando do artista. Ou seja, Chico entrou em campo com o jogo ganho, e manteve o público sob total controle durante as pouco mais de duas horas de apresentação. 

A turnê nacional de "Chico", nome do novo disco e deste show, está em cartaz desde novembro do ano passado, já foi vista por quase 130 mil pessoas e a passagem por Natal encerra a temporada. Diante do que foi apresentado uma coisa é certa, o ingresso valeu cada centavo do investimento.

Fonte: Tribuna do Norte

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