segunda-feira, 14 de maio de 2012

"Esperamos superar nossa meta em 100 por cento"

Renata Moura - Editora de economia - Tribuna do Norte

Emanuel AmaralRoberto Linhares, superintendente da Caixa no RN: Não estamos preocupados com a inadimplência. Se a concessão de crédito é bem feita,  é provável que não tenhamos problema.Roberto Linhares, superintendente da Caixa no RN: Não estamos preocupados com a inadimplência. Se a concessão de crédito é bem feita, é provável que não tenhamos problema.
Juros em queda e novas oportunidades de fisgar clientes em segmentos como o crédito consignado - o crédito com desconto em folha de pagamento - deverão render à Caixa Econômica Federal recordes em financiamentos este ano no Rio Grande do Norte, estima o superintendente do banco no Estado, Roberto Linhares.  "Devemos tranquilamente dobrar os valores que havíamos projetado", calculava ele na última quinta-feira, momentos após o banco anunciar a terceira redução de taxas em linhas de crédito. Os juros em queda, que segundo especialistas exigem cautela e pesquisa do consumidor, tem servido de fermento para catapultar os resultados da instituição desde abril e já alavancam um crescimento superior a 800% apenas na linha de capital de giro para micro e pequenas empresas, para citar um exemplo. Nesta entrevista, Linhares fala sobre o momento favorável, sobre as mudanças na poupança - modalidade que, afirma, continua sendo bom negócio - e trata de um tema espinhoso chamado mobilidade urbana. Desde dezembro, a Prefeitura de Natal firmou contrato com o banco para financiar uma série de intervenções que prometem melhorar o trânsito na cidade. Nenhum centavo, entretanto, foi liberado pela instituição financeira até o momento. A seguir, confira os principais trechos da entrevista e o que está travando a liberação dos recursos. 

A Caixa anunciou na quinta-feira passada novas reduções nas taxas de juros, em áreas como financiamento de veículos. O que tem provocado essas quedas?

É uma questão de reposicionamento estratégico. Em qualquer operação de crédito vamos buscar trabalhar com as melhores taxas.

Temos acompanhado o embate do governo federal com os bancos, principalmente os privados. Isso tem influenciado esses cortes?

Isso (a queda das taxas na Caixa) não é em função de pressão do governo. Em 2008, quando os bancos pararam de fornecer crédito (em meio à crise financeira que acabara de eclodir), a Caixa forneceu crédito, ganhou mercado e cresceu. Da mesma forma agora vemos uma janela de oportunidade enorme. E os outros bancos estão seguindo, é claro, porque se não seguirem vão perder muito mais.

Essa é a terceira rodada de redução de juros. Até onde o banco vai?

Sempre que for necessário a Caixa vai fazer as intervenções necessárias para ter o melhor crédito para o cliente.

Essa nova rodada de reduções foi divulgada um dia após o Banco do Brasil ter anunciado novos cortes em algumas linhas. É a concorrência que tem impulsionado esse barateamento do crédito?

Essa é uma questão de posicionamento estratégico. Na hora em que a gente vê que alguém está praticando uma taxa abaixo da nossa vamos procurar adequar isso, por causa de uma questão de posicionamento estratégico.

Especialistas e entidades de defesa do consumidor têm acompanhado de perto essa onda de redução dos juros. E criticam que as taxas super reduzidas não são para todos os consumidores. Que, para acessá-las, é preciso atender a exigências os bancos. Como você avalia isso?

Aqui na Caixa, para você ter ideia, de janeiro a março, na linha de capital de giro - que baixou para 0,94% ao mês - tínhamos emprestado R$ 2 milhões e 700 mil. De abril aos 9 primeiros dias de maio, emprestamos R$ 19 milhões. Só no mês de abril emprestamos R$ 14 milhões. Essa linha é para micro, pequenas e médias empresas. 99% das empresas do estado estão enquadradas nesse grupo. Registramos um crescimento de 864% só nesse produto (linha de capital de giro), em relação ao período de janeiro a março. Quem nos procura tendo condição de fazer o crédito, ou seja, tendo cadastro limpo, abertura da conta com a caixa e que começa a trabalhar com a caixa como banco de relacionamento , tem disponíveis as linhas que estamos divulgando com as taxas que estamos divulgando. Não há super exigências. 

Falando de forma global, como essa redução de juros tem influenciado o desempenho da Caixa? Como influenciou neste quadrimestre?

 No primeiro quadrimestre de 2011 fizemos R$ 59,5 milhões em empréstimos em consignação. O número já vai a R$ 73,1 milhões no primeiro quadrimestre de 2012. Só nessa operação tivemos 23% de crescimento. De forma global, no primeiro quadrimestre de 2012 emprestamos R$ 121 milhões às pessoas físicas, contra R$ 80 milhões no mesmo período do ano passado. A expansão foi de 51%. Quanto às pessoas jurídicas, os empréstimos saltaram de R$ 71 milhões entre janeiro e abril de 2011 para  R$ 141 milhões em igual período deste ano.  O aumento foi de 98%. No caso de pessoas físicas, os números consideram todas as linhas de crédito, desde  crédito pessoal, a cheque especial, o Construcard  (para reformas), além do financiamento de veículos. Só não inclui financiamentos de imóveis.

Mas não é só a queda nos juros que tem puxado esse crescimento..imagino..

Não. No caso dos consignados, por exemplo, os números também são influenciados pelo fim da exclusividade do Banco do Brasil na concessão desse tipo de crédito. Hoje fazemos empréstimo para os servidores do governo do estado, da prefeitura de Natal e praticamente com todos os órgãos. A exceção é o Tribunal de Justiça, que ainda não conseguimos.

Não conseguiram ainda...quer dizer que Caixa tenta?

Há uns seis meses ou até mais.

E o que impede?

O tribunal entende que o contrato que tem com o Banco do Brasil é superior, por exemplo, à norma do Banco Central que diz que aquilo (a exclusividade) é prejudicial à livre concorrência. Há o entendimento do TJ de que deve cumprir essa cláusula contratual, mesmo que os servidores fiquem de certa forma prejudicados porque estão vinculados a uma instituição só.

Com a redução nos juros a tendência é que aumente o consumo. A Caixa não teme que com isso aumentem o endividamento e a inadimplência?

Nossa inadimplência gira em torno de 2%. E ela é bem controlada. Quando se trata de imóveis as garantias facilitam. Na consignação também há certa garantia, porque é desconto em folha. Nas outros produtos temos a inadimplência sob controle. Não estamos preocupados porque se a concessão é bem feita, ou seja, se analisamos que a pessoa tem capacidade de pagamento, tem condição de fazer esse crédito do ponto de vista de cadastro, histórico, se está dentro da possibilidade de pagamento dela, é provável que não tenhamos problema de inadimplência. 

Para imóveis como está a procura? Houve um salto como nesses outros segmentos?

Como a taxa de juros já era muito próxima da Selic, não tinha uma diferença tão grande  (nas taxas) como era o caso do crédito comercial. Então esse impacto é menor. Mas houve uma redução significativa na taxa de juros. Por exemplo, o cliente que procurava a gente para comprar um imóvel avaliado em mais de R$ 500 mil, teve redução de 10% para 9% ao ano. Dá uma diferença significativa para a prestação dele. Como as linhas de FGTS, que são voltadas para as faixas de renda menor, não têm redução de taxa, elas se mantém. São taxas que começam com 4,5% ao ano, são bem menores que a Selic, praticamente a metade, então essa corrida não é tão grande, mas há sim aumento de demanda. Principalmente nos recursos Caixa, nos recursos de poupança. 

Não foram só as taxas de juros que mudaram. A poupança também mudou. Isso influenciou o movimento no banco? Houve mais saques de dinheiro, aumentou o movimento de pessoas para tirar dúvidas?

Houve, na verdade, um aumento significativo na captação da poupança após o anúncio da mudança. Aqui no estado captamos no mês de abril bem mais do que na média de janeiro, fevereiro e março. A caixa tem mais de 35% das poupanças no país. No RN,  temos mais de R$ 1,8 bilhão em poupança. É mais de 50% da poupança toda do estado. Depois da mudança, captamos R$ 30 milhões. Isso é o que foi depositado diminuindo-se já os saques no estado. Para isso, não tivemos que dedicar tempo especial para esclarecer as mudanças. Os jornais esclareceram muitas dúvidas, os bancos também fizeram isso em seus sites, o governo idem. O impacto de (aumento de) atendimento foi praticamente nenhum. Inclusive via telemarketing.

Mas a mudança na prática entrou em vigor no dia 4 de maio...

Exato. Mas, no final de abril, o pessoal já tinha expectativa de mudança e teve aumento bastante significativo na captação, que continuou em maio. Isso porque não houve nenhum dano, nenhum prejuízo para o pequeno poupador. Com a mudança, temos a seguinte situação para quem tem dinheiro na poupança: Quem tinha depósitos feitos até 3 de maio, tem a rentabilidade desse dinheiro atrelada a 0,5% ao mês (ou 6,67% ao ano) + TR (Taxa referencial). Se a Selic atingir 8,5% ao ano ou menos, o dinheiro aplicado a partir do dia 4 de maio vai ter um rendimento diferenciado: vai render 70% da Selic + TR. Digamos que a Selic cai para 8,5% - como os analistas esperam que ocorra em 30 de maio - se ela cai para 8,5% a taxa que era de 6,67% ao ano vai para 5,95% ao ano. + TR. E 5,95% ao ano, daria uma diferença de rendimento em cima de R$ 10 mil, por exemplo, de R$ 5 em um ano. É praticamente nada de diferença. Se a taxa Selic cair para 8,75%, por exemplo, não haverá qualquer alteração.

Mas quem poupa dinheiro não quer perder um centavo. A poupança continua sendo bom negócio?

Sim. As pessoas viram que não estão tendo prejuízo. Na verdade estão ganhando com o que ficou de antes de 3 de maio e tendo uma remuneração diferenciada a partir daí. Que não é tão diferenciada. R$ 10 mil em um ano dá R$ 5 de diferença de rendimento, para o que se tinha. Isso dá R$ 0,40 por mês em cima de R$ 10 mil. Na horta que se mostra que se a taxa de juros caísse 6% ao ano a poupança ia render 6% ao ano sem imposto de renda, as pessoas vêem que não estão tendo prejuízo.  A poupança, como é livre de imposto de renda, como o dinheiro pode ser sacado a qualquer momento, tem vantagens próprias. Quando eu coloco a TR ela supera a aplicação em um fundo de investimento. Além disso, há uma parte da poupança que mesmo que caia a Selic vai ter a remuneração garantida de 6% ao ano + TR.  Todo o valor que o poupador tinha investido até 3 de maio continua com a mesma regra. Depois dessa data é que fica 70% da Selic mais TR. Relativamente para a o poupador foi uma vantagem maior.

A Caixa esperava fechar o ano com quanto emprestado de modo geral e, com todos esses fatores a favor, essa expectativa sobe para quanto?

Em abril já batemos as metas que tínhamos para até o mês junho. Talvez superemos nossa meta de crédito em 100%. Se não chegar a 100% chegará bem próximo disso. Tínhamos como meta para o crédito a pessoa física superar este ano em R$ 160 milhões os Aldo que alcançamos em 2011, ou seja, o valor líquido, depois de pagamentos e amortizações.  Na pessoa jurídica a expectativa era aumentar o saldo em R$ 100 milhões, em relação a 2011.  Devemos tranquilamente dobrar os valores. Com juros menores, demanda maior, portabilidade de crédito. 

Falando agora em mobilidade, os projetos demoraram a chegar à Caixa, chegaram incompletos, alguns complementos foram solicitados pelo banco até que o contrato de financiamento com o município foi firmado em dezembro. Em que pé está isso? O que andou desde então? Há alguma coisa travando a liberação desses recursos?

O projeto já andou. Para você ter ideia, ele já está no Ministério das Cidades há mais de 20 dias em análise. Ou seja, a parte técnica, do projeto da primeira fase. Você sabe que a mobilidade foi dividida em duas etapas. A etapa 1, que é aquele complexo da Urbana ,chegando a Mor Gouveia, e a parte 2, que é a parte das conexões, que engloba o entorno da Arena das Dunas. A primeira etapa o município dividiu em três partes. Uma que é o viaduto do complexo da Urbana, outra chegando na Mor Gouveia e outra chegando mais à frente. Essa primeira parte que analisamos, do viaduto do complexo da Urbano, sob o ponto de vista técnico, está tudo ok. De projetos de arquitetura, batendo com o financeiro, está tudo ok. Então o projeto foi para o Ministério para retornar posteriormente à Caixa, mas depende da apresentação de pequenos detalhes.

Que detalhes seriam esses?

Para dar a obra pronta para desembolso, a Caixa tem que cumprir a lei, a norma. Então a apresentação da licença ambiental é necessária e o município está providenciando. Também é necessária uma autorização do Dnit para uma intervenção que vai ser feita numa avenida federal - o município está providenciando - também é necessária a entrega dos contratos de contragarantia, que na secretaria do tesouro nacional o município pega e traz para a caixa. Esses detalhes são o que faltam, para que se dê a obra pronta para desembolso. Como é financiamento precisamos dar a obra como pronta para desembolso, como pronta para receber os valores do financiamento. Porque é financiamento, ou seja, o município vai pagar de volta os R$ 293 milhões de financiamento que contratou do FGTS. Essa primeira fase está em vias de fechamento. De dar a obra pronta para desembolso. A complementação da documentação - a licença para a primeira parte - a questão da área estar liberada (desapropriada) para construir e seguir com a obra (o município também já cuida dos pagamentos), e a autorização do Dnit para intervir na avenida que é de âmbito federal.

O que o Ministério analisa nesse momento?

Encaminhamos o projeto para o ministério para agilizar a análise do ministério e esperamos uma aprovação condicionada: do tipo: ok, o projeto está pronto para desembolso desde que apresente esses complementos na documentação.

É possível fazer alguma estimativa de quando toda essa tramitação vai terminar e começará ser liberado o dinheiro?

 Não, porque tem muita coisa que não depende da gente. Não sei quando vai chegar a licença ambiental na Caixa, quando a autorização do Dnit vai chegar para a gente encaminhar para o Ministério e dizer: está ok, para o agente operador do fundo de garantia fazer a autorização de liberação de medição de obra e dos pagamentos. Mas, na verdade, o próprio município diz que já começou a capear ruas e isso faz parte da obra de mobilidade. Ele (o município) pode depois usar isso como parte da contratapartida de obra que ele teria.

Mas o grosso do projeto depende dos recursos da Caixa...

Com certeza. São R$ 293 milhões que vêm de financiamento do FGTS, sendo R$ 45 milhões de contrapartida do município.

O dinheiro vai ser liberado de uma vez só?

Não. É liberado na medida em que vai sendo construído. A medida que vai sendo construído, vai sendo medido e pago.

Nada foi liberado até agora?

Do FGTS não. O município tem usado recursos do próprio caixa do município.

Como você definiria esse ritmo do projeto? Há atrasos?  Há burocracia? A prefeita de Natal, Micarla de Sousa, se queixou publicamente disso (da burocracia) há pouco tempo..

Veja só. Estamos falando de projetos muito complexos. A exigência de uma licença ambiental ou de uma autorização do Dnit quando eu vou entrar numa área federal não é burocracia. Estamos andando com a análise. Mas não podemos descumprir a norma. Imagina se a gente libera determinada intervenção sem que se tenha determinada autorização do órgão ambiental, por exemplo... E a parte mais difícil do projeto já foi feita. Que foi enquadrar o projeto técnico, o financeiro daquele projeto, a planilha daquele projeto... agora são detalhes que estão faltando.

O senhor disse que não é possível prever ainda quando o dinheiro começará a ser liberado. Mas começa ainda este ano?

Não tenha dúvida de que sim. A documentação estando completa já já daremos a obra como pronta para desembolso.

Há risco de Natal não receber esses recursos?

Acredito que não. Até porque isso é uma necessidade não do município, não da Caixa, mas da sociedade como um todo. Precisamos de intervenções para melhorar o trânsito. Acho que as obras vão sair sim.




Fonte: tribuna do norte

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