quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um escritor multifacetado em seu ofício

Fernando Monteiro é um poeta e romancista pernambucano do mais alto nível (confira seus dados biográficos no Wikipédia, na internet). Agora ele volta ao poema longo com o livro Mattinata. Combinei com Tácito Costa, editor do blog Substantivo Plural, uma entrevista com ele e juntos enviamos algumas perguntas ao autor. Sua resposta foi caudalosa e, infelizmente, não vamos poder mostrar toda aqui devido ao pouco espaço disponível. Mas o leitor pode conferir a entrevista completa no Substantivo Plural. Algumas perguntas também foram editadas para economizar espaço.  

Por que a opção pelo tipo de composição do poema longo?

Sem que a frase possa vir a soar vaidosa (por favor!), eu diria que fui até bem sucedido no gênero do romance, a partir de Aspades, Ets Etc - que saiu primeiro em Portugal, pela ótima editora do Jorge Araújo, a Campo das Letras. Deram-me o primeiro prêmio de literatura da revista BRAVO, por ele. Depois, publiquei mais cinco ou seis livros de ficção pela Record, Editora Globo, pela W11 e pela Francis. Essa aparente "auto-confetagem" é só para dizer que eu poderia ter ficado instalado confortavelmente no romance, mas de fato encheu meu saco a montanha de romancistas que apareceu nos últimos tempos, neste Brasil de modismos inacreditáveis. Todo mundo, neste momento, virou romancista: o taxista, o zelador do meu prédio, Vera Fischer, Paulo Coelho e talvez o Eike Batista também. É assim, atualmente: romancistas por todos os lados. Bem, em vista disso (em parte), eu achei que era a hora de voltar para a poesia - praticando o poema longo que quase ninguém pratica. É que a minha (falta de) lógica funciona dessa estranha maneira: tenho tendência para ser multado por ir na contramão das ondas. Nnguém esqueça que, recentemente, a diretora-editorial da Record andou recomendando (na revsita da Livraria Cultura) que nenhum escritor jovem enveredasse jamais "por contos e poesia", porque esses gêneros "não se vendiam" aqui em Pindorama. Imagine, aonde chegamos, em nome do hoje todo-poderoso Moloch do Mercado!... Estarei indo contra tais coisas, sempre, remando contra todas as marés, se for preciso.   

Por que seu novo livro se chama Mattinata?

É o título do primeiro dos três poemas (só são três, nesse livro), justo aquele que se passa numa manhã, bem cedo, na matinê do sofrimento humano oculto na dobra dos versos brancos, livres, pretos, presos. Poema narrativo, como igualmente o Vi uma foto de Anna Akhmátova, pelo qual retornei à "prima pobre da literatura" (rs), a Poesia, há três anos.

O trecho de Mattinata publicado no Substantivo Plural revela nuances mais existencialistas com relação ao tempo, o que era menos explícito nos seus dois poemas longos publicados anteriormente. Concorda com essa leitura?

Concordo, sim. Até por definição (vinda do título), o poema pretende ser uma meditação sobre o tempo, no sentido de relógio existencial percebido pelo Tácito Costa no fragmento publicado nesse espaço único (na internet) que é o democratíssimo SP, maior do que São Paulo como caixa de ressonância sob a batuta de um sutil maestro.

A capa de Mattinata é de um grande artista brasileiro e seu amigo Francisco Brennand. Como se deu essa escolha?

Brennand é o maior artista brasileiro vivo, na minha opinião. É também um dos espíritos mais vigilantes destes tempos de penúria em todos os níveis: cultural, moral, política etc (exatamente o tema do terceiro - e último - poema de Mattinata). A capa da edição portuguesa do Aspades também foi de Francisco. Por mim, todas as capas dos meus livros seriam dele, uma honra demasiada para este amigo de FB admirador da sua arte.

Você também dialoga com o melhor da tradição poética universal. Quem dialoga com sua poesia?

Acho que se o Silêncio ("toda poesia aspira ao silêncio") quisesse dialogar comigo, eu ficaria de joelhos, silenciosamente, diante dele. E não chamaria ninguém pra fotografar e botar nos jornais.

Como vê o panorama do romance brasileiro atualmente? A premiação de autores como Chico Buarque e Edney Silvestre, por exemplo, indica que o gosto médio literário está se impondo a leitores e jurados?

Edney Silvestre é um engodo e Chico Buarque - o maravilhoso compositor da MPB - é um aprendiz de romance, sob patrocínio da Companhia das Letras (podia ser das Casas da Banha também). Há outros engodos e outros aprendizes até piores por aí, enchendo o saco da gente e levando os prêmios, seja por causa de olhos verdes ou não. Melhor para eles, e pior para a literatura brasileira. Saí do romance por causa dessa inflação de "mais do mesmo" e daí para baixo... 

Tem planos de voltar a escrever romances?

Tenho, sim, mas isso quando alguns ótimos contistas e romancistas (sem prêmios e outras benesses) forem devidamente reconhecidos. Quer exemplos? Francisco de Morais Mendes, mineiro que eu não conheço pessoalmente [portanto, não há "compadrismo" nisto], é um dos melhores contistas do Brasil, assim como Luís Henrique Pellanda, curitibano um pouco mais jovem do que Mendes e, talvez, um pouquinho mais afortunado, mais ainda nada que se pareça, no caso deste e de outros talentos, com o Edneysilvestrismo dourado que vai para quem tem jogo de cintura e mídia frouxa em favores y otras cositas mais.


Fonte: Tribuna do Norte

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