Os olhares se estendiam até o final da rua, da avenida ou da próxima esquina. A expectativa era que, dali, surgisse um único transporte público para que a angústia do dia anterior não se repetisse. Durante a segunda-feira, menos de 10 ônibus eram responsáveis pelo transporte de cerca de 400 mil usuários. Ontem, o cenário se repetiu com a mesma intensidade e prejuízo. Houve momentos em que nenhum veículo de transporte coletivo era visto em Natal. O Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado do Rio Grande do Norte (Sintro/RN) descumpriu a medida liminar expedida pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) que determinava aos menos 70% da frota rodando em horários de pico. Na hora do rush ou não, a população teve que se virar para chegar ao trabalho, aula ou outra atividade.
Adriano AbreuAlternativos foram as opções de transporte nas primeiras horas
Na noite da segunda-feira passada, o TRT deferiu liminar ao pedido ajuizado pelos Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros do Rio Grande do Norte (Setrans/RN) e pelo Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Natal (Seturn) contra o Sintro, sob pena de pagamento de R$ 25 mil diários em caso descumprimento. E a medida foi descumprida. No início da manhã, três empresas colocaram os veículos nas ruas: Cidade do Natal, Reunidas e Conceição.
Momentos depois, no entanto, os ônibus foram recolhidos após intervenções de membros do Sintro. De acordo com o diretor de Comunicação do Seturn, Augusto Maranhão, o sindicato dos rodoviários cometeu uma "completa afronta às autoridades constituídas". "Aquele refrão famoso - Quem manda nessa cidade sou eu - agora se refere ao Sintro. É preciso que a ordem seja restabelecida", disse. Segundo ele, membros da diretoria do Sintro abordaram veículos e impediram a sua circulação normal.
Desde as primeiras horas da manhã, a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE acompanhou a movimentação em paradas de ônibus. Diversos locais acumulavam pessoas a espera do transporte público, que não viria. Insatisfeitos, os usuários procuravam alternativas como caronas, transportes opcionais e outras formas de lotação. Proprietários de ônibus, mesmo não autorizados, assumiam as linhas de circulação normal e supria a necessidade da população.
Algumas pessoas ainda confiavam que o problema seria parcialmente sanado ontem. Desde às 4h30 na parada em Nova Natal, Zona Norte, Laécio Gomes, 28 anos, esperava o transporte para ir ao trabalho. "Ontem fiquei esperando até às 9h e não vi nenhuma linha, até que desisti. Hoje, tenho que dá algum jeito e chegar ao trabalho", disse o homem que trabalha em manutenção de máquinas em um hotel na Via Costeira. Ao seu lado estava Wellington da Silva, 21 anos. Desde as 5h45 na parada, ele também reclamava da greve. "Já me prejudiquei bastante e achei que hoje ia ser diferente. Mas foi a mesma coisa", afirmou.
Outras pessoas ponderavam a respeito das reivindicações dos rodoviários. "Eles estão no direito deles de cobrar, precisam do salário. Acho justo a paralisação, mas infelizmente acabamos sofrendo", relatou a auxiliar de cozinha Maria Dina, 21 anos, que esperava há duas horas para pegar o ônibus que a levaria para a Via Costeira.
Trens param em cinco capitais brasileiras
AE - Natal está entre as cinco capitais brasileiras com a circulação dos trens comprometida desde ontem devido a uma paralisação promovida pelos trabalhadores. O motivo seria a negativa do governo federal em dar um reajuste salarial. Aderiram à paralisação os trabalhadores das cidades de Belo Horizonte, Maceió, João Pessoa, do Recife, além de Natal, atendidas pela Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU). Nessas cidades o número de trens em circulação foi reduzido.
A presidente do Sindimetro de Minas Gerais, Alda Lucia Fernandes dos Santos, informou que as reuniões de negociações do reajuste começaram em 21 de março e se estenderam até 8 de maio. "Como a CBTU e o Governo Federal mantiveram a proposta de dar reajuste zero, o sindicato e a categoria decidiram colocar em prática a paralisação", conta Alda.
Em Belo Horizonte, 230 mil usuários do metrô foram afetados pela paralisação, segundo o sindicato, mesmo com a frota operando 100% nos horários de pico, conforme determinou a Justiça. Em Recife, a paralisação começou às 22 horas de segunda-feira. Segundo o presidente do Sindimetro de Pernambuco, Lenival José de Oliveira, os 275 mil usuários que passam diariamente pelas 36 estações são atendidos apenas das 5h às 9h e das 16h às 20h.
Em João Pessoa, na Paraíba, os trens ficaram parados desde a 0h da terça-feira e 30% da frota opera nos horários de pico. O presidente do Sindimetro do Estado, José Cleofas Brito, disse que o sindicato acata as condutas que a Procuradoria do Trabalho implantou, sobre o funcionamento dos trens em horários específicos, mas que as 11 estações da capital manterão o protesto até que a empresa CBTU apresente algum índice de reajuste salarial.
Fonte: Tribuna do Norte
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