sexta-feira, 14 de setembro de 2012

UOL expõe contraste entre o luxo turístico e a miséria da população em Tibau do Sul no RN

Quem chega à entrada do município de Tibau do Sul (a 70 km de Natal) não imagina que, a 19 quilômetros dali, terá acesso a um dos mais bonitos e visitados paraísos naturais do Nordeste, onde está a famosa praia de Pipa, no litoral sul do Rio Grande do Norte - informou o portal UOL.

Apesar da fama internacional que atrai milhares de europeus todos os anos ao destino, Tibau do Sul não esconde seus problemas. A cidade tem diversas ruas sem calçamento ou esgoto, moradias precárias e acumula queixa dos moradores, que reclamam da diferença no tratamento dado à parte turística –urbanizada e bem cuidada– em comparação ao dado à periferia da cidade.

Apesar do turismo forte, a renda média da população é inferior à média potiguar. Com 11 mil habitantes, Tibau do Sul tem PIB (Produto Interno Bruto) per capita de R$ 6.115, menor que o valor do Rio Grande do Norte, que fica em R$ 8.893. Os dados são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), referentes a 2009.

UOL visitou Tibau do Sul dentro do projeto UOL pelo Brasil –série de reportagens que percorre municípios em todos os Estados do Brasil durante a campanha eleitoral deste ano. A reportagem viu de perto que a cidade é a essência do contraditório, com o luxo exuberante de resorts e restaurantes finos, e a pobreza extrema que ainda domina praticamente toda a periferia tibauense.

No caminho para a praia da Pipa, antes de se debruçar com as belezas naturais, o viajante encontra um cenário que não foge àquele típico encontrado em cidades pequenas do Nordeste, com infraestrutura bastante limitada.

No loteamento Bela Vista, por exemplo, não faltam problemas. A começar pelas ruas de terra e casas que ameaçam desabar. Segundo os moradores, na eleições de 2008, uma das principais promessas dos políticos era construir moradias populares para retirar as famílias da condição precária em que vivem. Mas elas não foram cumpridas.

"A cidade tá precisando melhorar mais. Tá faltando trabalho, muita gente desempregada, pedindo aqui nas casas. Tá faltando casa, a minha mesmo é de taipa. As dos meus vizinho, podem ir ver, estão tudo assim. O tratamento aqui é muito pouco. Falta educação e falta atendimento no posto de saúde", reclama a dona de casa Michelane da Silva Barbosa, que relata a diferença no tratamento entre a parte nobre e a parte pobre da cidade. "É muito diferente", pontua.

Durante a visita do UOL ao bairro, pelo menos quatro casas visitadas tinham problemas estruturais graves. A pior condição era a residência da dona de casa Maria Goreti da Silva. "Tem buraco por todo canto, entra rato, maribondo, é um inferno. Isso não é uma casa para ninguém morar", reclama, mostrando o telhado com parte desabada.

Crise econômica europeia derruba turismo na cidade


O município de Tibau tem sua economia baseada no turismo. Segundo a prefeitura, 70% PIB depende da atividade. Mas o turismo vive um momento de dificuldade. Com a crise econômica na Europa, Pipa passou a conviver com uma redução no número de turistas e pousadas e hotéis vazios em boa parte do ano.

"Nós não vivemos um bom momento de captação de turista estrangeiro. Hoje, nosso maior fluxo é do turista nacional, e para ele precisamos de sobremaneira dessa estrutura de acesso de estrada", afirma José Odécio, representante da Abih (Associação Brasileira da Indústria Hoteleira) da região de Tibau do Sul.

Segundo Odécio, o preço da passagem do voo direto Natal-Lisboa é um dos problemas enfrentados para atrair mais turistas. "Essa passagem hoje custa 950 euros [cerca de R$ 2.500], o que torna uma viagem cara. Já tentamos negociar, para ver se esse preço não poderia ser menor, mas até hoje não conseguimos", afirma. "Pipa viveu um auge nos anos 2005, 2006, mas depois caiu. Hoje o turismo regional e nacional representa 90% do total. O ideal era que fosse 50%", diz.

Outro problema questionando pelo setor é a falta de divulgação do destino em outros países. "Hoje essa divulgação não existe mais. O governo do Estado deixou de vender o destino", conta Odécio.

A crise causou desemprego e aumento os problemas sociais na cidade. "Está faltando emprego por causa do turista que não está chegando. Uma temporada dessa, entre agosto e setembro, dava muito movimento, a Pipa ficava lotada. Mas agora tem semana que restaurante não vende uma água sequer", conta o recepcionista Dárcio Martins da Silva, que culpa a gestão municipal por parte dos problemas. "Não se investe e cobra-se imposto muito alto."

Em nota encaminhada ao UOL, a Secretaria de Turismo do município negou que tenha deixado de divulgar o destino fora do país, e cita que a crise europeia é o principal motivo para a derrubada do número de turistas. "O Estado vem enfrentado essas dificuldades de maneira semelhante ao que já acontecia no passado, participando de todas as feiras importantes europeias e sul-americanas", afirma o texto.

"A estrada não é boa, mas devagar você chega tranquilo"

  • Leandro Moraes/UOL
  • Tibau do Sul tem asfalto precário; veja mais imagens clicando na foto

Além da infraestrutura urbana precária, o acesso à praia de Pipa para os turistas também é marcado por problemas, como falta de sinalização e de acostamento em boa parte do trecho. "A estrada não é boa, mas devagar você chega tranquilo", avisa um frentista do posto de gasolina na BR-101, que fica na esquina da estrada de acesso a Tibau do Sul.

Mas a falta de estrutura poderia ter sido resolvida, caso a rodovia anunciada pelo poder público há mais de três anos tivesse sido construída. O UOL tentou contato com o DER (Departamento de Estradas e Rodagens) do Rio Grande do Norte, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem. Segundo anúncio do governo do Estado em maio deste ano, a obra estaria parada há mais de um ano por conta da falta de liberação de recursos federais. A obra, que consta no Orçamento Geral da União, tem custo de R$ 45 milhões, mas teria apenas 1% do total liberado até aquele momento, segundo informou o Estado.

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