domingo, 6 de maio de 2012

Projeto quer recuperar Centro Histórico de Natal


Os centros históricos das capitais brasileiras são, em maioria, rota fundamental do turismo local. Em Natal, o Centro Histórico é apenas projeto: projeto de urbanização, projeto cultural, projeto de tombamento, projeto de revitalização, projeto de calçamento... É quase um papel; um ofício de promessas futuras. Turista em Natal visita mesmo é a praia.
 
E a capital cascudiana parece cidade sem identidade cultural - se é que tem. Iniciativas pontuais procuram (re)erguer o Centro Histórico, tomado pela boemia tradicional de provincianos na Cidade Alta ou casas de show de estrutura mediana e abandono de prédios tombados na Ribeira. É o resumo clássico observado por qualquer natalense ou mesmo turista.

O marco numa possível mudança de cenário aconteceu em 9 de dezembro de 2010. Com menos de um ano e meio, o tombamento do Centro Histórico de Natal ainda engatinha. Em outros centros ele já é adulto, vigoroso, reconhecido e compreendido pelo nativo ou turista. E para que este bebê cresça com saúde, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/RN) tem promovido uma série de debates e workshops para esclarecer as normas do tombamento.
 
O evento teve início em abril e prossegue até junho, direcionado a proprietários e moradores, comerciantes e empresários, educadores de escolas públicas e profissionais ligados à preservação do patrimônio arquitetônico e urbanístico de Natal.

Entender as regras e, sobretudo, o objetivo e importância do tombamento é imprescindível à preservação do patrimônio histórico. E mais: é fundamental para construção - ou consolidação - da identidade cultural natalense. Para tal, aspectos práticos do dia-a-dia precisam chegar ao conhecimento dos envolvidos.
 
A proprietária do bar no Beco da Lama, o morador da casa na rua Gonçalves Lêdo, o dono da casa de show na Ribeira ou qualquer proprietário de imóvel inserido na área tombada precisa saber que para realizar qualquer pintura ou consertar um simples reboco requer autorização do Iphan. Do contrário, a infração será seguida de multa de 50% do valor do dano ao bem tombado.

Por essas e outras, o presidente da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências (Samba), Augusto Lula, questiona: "Qual o benefício para o dono do imóvel?". E a arquiteta do Iphan, Luana Cruz, responde: "Eles já possuem uma relação física com o local, mas precisam despertar a relação de valorização. É questão de sensibilidade". Fato é que a realidade dos comércios - via de regra, bares e botecos - no Beco da Lama e adjacências são de estruturas simples e antigas, bem cuidadas à sua maneira, e carecem de pequenos reparos vez ou outra. E se eles enfrentarão a burocracia daqui por diante, também podem usufruir de benefícios exclusivos. Basta saber e cobrar os seus direitos.

Potencial desperdiçado

Na última quinta-feira, professores do departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFRN levaram universitários e mestrandos para passeio no centro histórico. A ideia era mostrar a importância e a história dos principais prédios. Após a observação, a opinião generalizada dos estudantes foi a constatação de abandono ou mesmo de como trabalhar para reverter o quadro. Para a mestranda Gabriela Andrade, 24, o Centro Histórico de Natal está repleto de prédios abandonados. "Precisamos discutir e elaborar propostas para sugerir o que eles poderiam ser; estabelecer uma relação com o Rio Potengi; e estudar maneiras para aproveitar esse potencial".

A professora de arquitetura e uma das coordenadoras do evento, Natália Vieira, observa diferentes situações dentro do mesmo centro histórico natalense: ocupação residencial ainda acentuada na Cidade Alta - e com problemas e potenciais inerentes - e uma Ribeira sem densidade habitacional e de prédios abandonados. "Então temos propostas de uma mesma preservação, mas de cunhos diferentes". Pela falta de residências no entorno, aos poucos a Ribeira tem se tornado um corredor de bares e botequins. Já no Centro, a crescente é de residências e, consequentemente, de leis proibitivas aos shows, mesmo um chão de cultura tradicional.

A mestranda Juliana Valverde, 35, é carioca. Está em Natal há oito meses. Para ela, a diferença mais notória entre os centros históricos do Rio de Janeiro e Natal é o tempo do tombamento. "No Rio aconteceu há muito tempo. E a cidade se apropriou do seu centro, de maneira que se tornou centro cultural. Nem se passa carro na Lapa pela quantidade de bares, museus, de gente. E para construção dessa conjuntura houve participação ativa política, social e até privada. Por aqui esse processo ainda está começando, mas é preciso envolvimento".

Fonte: DN Online

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