domingo, 6 de maio de 2012

Irmã Lúcia, a senhora fraternidade

Ela não é simplesmente uma mulher que chega aos 87 anos com muita disposição para o trabalho. Na verdade, ela é a própria simplicidade tão evidente nos seus traços quanto no olhar, no andar, e no ato de ensinar à criança os caminhos do futuro, assim como São José Operário, o seu patrono acolhedor de crianças desamparadas. Com uma folha enorme de serviços prestados à causa da criança e do adolescente, bem que a irmã Lúcia Montenegro já poderia ter se aposentado. Mas não foi para ficar parada que São Vicente de Paulo lhe chamou, há 65 anos, para ser irmã de caridade, trabalhando na promoção e educação de crianças pobres.


Fotos: Fábio Cortez/DN/D.A Press
Ao ingressar na Congregação da Caridade das Filhas de São Vicente de Paulo, tomou o sonho de construir uma casa para proteger as crianças de rua como uma missão. Empunhando a bandeira inspirada pelas palavras do Cristo de "Quem acolhe o menor, a Mim acolhe", em plena Campanha da Fraternidade, a irmã Lúcia Montenegro conseguiu com a provincial irmã Heloísa Maia a doação de parte do terreno do Externato Dom Marcolino Dantas, no bairro do Alecrim, para construção da casa que serviria de apoio ao trabalho com meninos de rua. Do amigo dom Eugênio de Araújo Sales, então arcebispo do Rio de Janeiro, veio o primeiro dinheiro para tocar a obra. Depois vieram outras importantes ajudas, como a da Cosern que a cada ano presenteia a casa com uma ampliação.

Com seu esforço criou uma das mais importantes instituições de caridade do Rio Grande do Norte: a Casa do Menor Trabalhador, fundada por ela em 1987, atua no resgate social do jovem através de ações sócio-educativas, qualificação social e profissional para adolescentes, jovens e suas famílias, além da elevação do nível de escolaridade das crianças, adolescentes e jovens. Em todo esse tempo, a Casa do Menor tem inserido a criança carente na sociedade e o adolescente no primeiro emprego. Hoje, a Casa acolhe cerca de 600 crianças a partir de 6 a 15 anos matriculadas no Ensino Fundamental I e II e jovensdo curso profissionalizante, que é totalmente financiado pelo Instituto GMK/UNIBES, uma organização internacional que acreditou e investiu nos jovens de nossa sociedade. O empresário paulistano Edgar Gleich, é o fundador do Instituto George Mark Klabin.

Desde 2005, o curso de Assistente Administrativo prepara jovens para o primeiro emprego. A casa possui curso de informática básica, atualmente com 90 alunos distribuídos em três turmas, oficinas de mecânica, marcenaria e padaria que fornece pão para o consumo da instituição. Por semestre forma o número significante de 300 jovens no curso de Assistente Administrativo. 

Aos 87 anos, Lúcia Montenegro ainda trabalha todos os dias, os três expedientes
Através de diversos convênios, a Casa do Menor Trabalhador utiliza políticas emancipatórias para adolescentes e jovens de baixa renda, trabalhando para que as crianças e jovens sejam protagonistas de suas histórias e contribuam para mudar a própria realidade. É com satisfação que a irmã Lúcia Montenegro diz que, através dos convênios com diversas instituições, todos os alunos da Casa já saem do curso profissionalizante já empregados e com carteira assinada no primeiro emprego.

Tanto compromisso e dedicação pela causa da criança foram reconhecidos pelo Instituto Maria Helena, Federação de Futsal e Federação de Atletismo ao homenageá-la, conferindo-lhe o Título de "Mestre da Vida" no Dia Internacional da Mulher, além de outras entidades que trabalham com políticas públicas. 

A Casa tem uma grande despesa com pessoal, mantendo um número de treze funcionários para dar apoio aos projetos pedagógicos. "Não tenho o supérfluo mas tenho o necessário para manter os serviços que oferecemos em dia. Por isso, fazem um apelo para que a comunidade de Natal ajude a Casa a se manter, o que não é fácil. Para cumprir os compromissos da Casa, a irmã Lucia não mede esforços, bate de porta em porta até conseguir. Mas, ultimamente, as doações e os convênios não têm sido suficientes para cobrir as despesas e ela teve que assumir um empréstimo no próprio nome, descontando no próprio salário, para pagar os encargos sociais do funcionários que estavam atrasados há seis meses. 

Cearense de Quixadá, ela estudou na Universidade de São Paulo e Sociologia na Universidade de Pernambuco, mas depois mudou-se para Natal onde está desde 1961. Formou-se em Serviço Social e depois com a federalização da Escola de Serviço Social ingressou como professora da UFRN. Em seguida fez mestrado em Sociologia, o que lhe garantiu uma vaga como professora da UFRN e do Seminário São Pedro, tendo ensinado nas duas instituições por 20 anos, vindo depois a se aposentar.

Foi com São Vicente de Paulo e Santa Luisa de Marilac que peguei essa missão e a mania de trabalhar com crianças. "Foi ele o grande inspirador do meu trabalho junto às crianças e às famílias. O grande desafio é vencer os problemas que já estão no meio da família e que muitas crianças trazem para a sala de aula". Perguntada se vale a pena tanto sacrifício para a obra, ela cita as palavras de Jesus: "Quem ajuda a uma criança pobre está ajudando ao próprio Cristo".

Ela parece incansável, trabalha de manhã, tarde e à noite. O trabalho para ela é como uma verdadeira diversão com as crianças e jovens da escola e ainda encontra tempo para brincar com uma criancinha de dois anos, filha de sua secretária, e um cachorro que lhe fazem relaxar. Ao caminhar na escola é visível toda sua identificação com as crianças. Interagindo o tempo todo com a irmã Lúcia Montenegro, elas correm até a irmã, beijam e abraçam, assim como alguém da família, parecendo uma mãe, uma avó. Dentre as atividades de relaxamento ela cita as orações na capela do Santíssimo Sacramento situada na sua residência. "É rezando que me abasteço e recarrego as baterias com o maná do Espírito Santo para encarar toda essa obra durante todo esse tempo", explica ela. 



Fonte: Diário de Natal

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