quinta-feira, 17 de maio de 2012

Crime em Nova Parnamirim: Jardineiro confessa assassinatos

Marco Carvalho - repórter

O jardineiro João Batista Caetano Alves confessou a autoria dos assassinatos de Olga Cruz de Oliveira Lima e Tatiana Cristina Cruz de Oliveira Lima, cometidos durante a segunda-feira da semana passada. Ele foi preso pela Polícia Civil em São Gonçalo do Amarante durante a manhã de ontem. Na residência onde estava, foram localizados os diversos objetos e equipamentos levados da residência 464, da rua Antônio Lopes Chaves, em Nova Parnamirim. A investigação apontou, e João Batista corroborou, que a execução dos crimes contaram com o auxílio da sua companheira Marlene Eugênio Gomes. Ódio e desejo de roubar motivaram os assassinatos registrados com marcas de tortura e crueldade.
A polícia os encontrou em uma residência em São Gonçalo do Amarante e os conduziu posteriormente para depoimentos. Antes, passaram próximo à favela do Japão, na zona Oeste de Natal, em busca da arma do crime. A faca utilizada por João para desferir mais de 50 facadas em Olga e também ferir Tatiana foi jogada em um rio. A busca não obteve resultados. Os indícios, no entanto, já eram mais do que suficientes para responsabilizar João e Marlene pelas mortes. Um adolescente de 13 anos, filho de Marlene, que assistiu à prática do crime também foi apreendido para esclarecimentos.

"Matei a Olga porque estava com muita raiva dela. Ela dizia que eu estava roubando e também não me pagava os serviços que fazia lá. Foi um momento de fúria", relatou o assassino confesso à reportagem da TRIBUNA DO NORTE, ontem pela manhã. "Fiquei muito arrependido depois, não conseguia nem dormir pensando no que eu fiz. Espero que a família delas me perdoe", disse. Se o ódio motivou a morte de Olga, para Tatiana foi diferente. O desejo era roubar.

Tatiana foi amarrada e torturada para que cedesse a senha da conta bancária à dupla criminosa. A filha de Tatiana, de 10 anos de idade, que assistia a tudo, foi alvo de ameaças para que a mãe repassasse as informações. O casal realizou um verdadeiro arrastão na casa após a morte das mulheres: som, televisor, liquidificar, micro-ondas, joias e outros equipamentos foram levados no carro das vítimas. 

A menina, testemunha ocular do fato, foi alvo de agressão e, se dependesse da vontade dos criminosos, também  teria morrido. "Sufoquei ela com o travesseiro, porque ela tinha visto tudo. Pensei até que ela tinha morrido. Quando vi no outro dia na televisão que ela estava bem, fiquei até aliviado", afirmou João Batista. Morador de Cidade Nova, na zona Oeste de Natal, o jardineiro e seus familiares se mudaram para São Gonçalo após a ocorrência. Quem pensa que o remorso e o medo de serem pegos após os crimes formavam a rotina dos criminosos, engana-se. Fotos divulgadas pela assessoria da Delegacia-Geral da Polícia Civil (Degepol) mostra uma rotina tranquila de festas e exibicionismo com armas.
Adriano AbreuJoão Batista Alves e Marlene Eugênio Gomes, foram presos ontemJoão Batista Alves e Marlene Eugênio Gomes, foram presos ontem

Após depoimentos prestados à delegada Patrícia de Melo Gama e o delegado Correia Júnior, João Batista e Marlene foram encaminhados para um Centro de Detenção Provisória da Grande Natal. Estão detidos por força da prisão em flagrante, por receptação e formação de quadrilha. Além deles, também está detida Danúzia de Freitas Valcácia, que sacou o dinheiro da conta de Tatiana e também estava na residência em São Gonçalo do Amarante. O adolescente de 13 anos que assistiu ao crime foi liberado após esclarecimentos. 

A expectativa é que os criminosos sejam enquadrados e respondam pelos homicídios, com agravantes de tortura e tentativa de homicídio contra a criança. De acordo com informações da polícia, a delegada Patrícia de Melo Gama deve encaminhar à Justiça os pedidos de prisão preventiva contra João Batista, Marlene e Danúzia.

"Fiquei aliviado em saber que a criança não tinha morrido"

1. Relação Olga x João Batista

João Batista Caetano Alves mantinha contato com Olga Cruz há mais de seis anos. Ele era chamado para realizar serviços em geral na residência localizada em Nova Parnamirim. Desde reformas pequenas a trabalhos de jardinagem. Há cerca de um ano, Olga Cruz passou a recorrer a um outro pedreiro para realizar as obras na casa, o que teria gerado inveja de João Batista. "Ela não me chamava mais com tanta frequência. Até que na segunda-feira passada me ligou pedindo pra ir lá refazer seu jardim", relatou o homem de 28 anos de idade. 

No dia 7 de maio, João Batista chegou pela manhã na residência 464, na rua Antônio Lopes Chaves, em Nova Parnamirim. "Lá eu fazia de tudo. Botava uma cerâmica quando precisava ou refazia o jardim. Passeava com os cachorros também, eles já me conheciam. Por isso tudo, ela nem sempre pagava bem. Às vezes nem pagava", disse o homem. João Batista costumava manter uma boa relação com a família e realizar visitas em algumas oportunidades. 

O surgimento de um outro pedreiro, que substituiu João, causou-lhe revolta. "De repente, esse cara fazia tudo e ela não me chamava mais", disse. 

2. Premeditação

O assassinato de Olga Cruz foi premeditado por João Batista. O homem confessou que já acumulava ódio contra a mulher, que não o contratava com tanta freqüência, nem lhe pagava tão bem. O indício da premeditação foi esclarecido durante depoimentos na tarde de ontem. O jardineiro revelou que há um mês havia planejado matar Olga, pelos problemas citados. "Fui na casa dela com essa intenção. Estava tudo certo. Mas quando eu cheguei lá, ela não me deixou entrar. Soube depois que era porque ela estava sozinha e estava com medo de ser roubada por mim", relatou. A suspeita alimentou o ódio de João Batista contra a mulher, segundo depoimento. 

Na oportunidade, João Batista também estaria com a companheira, Marlene Gomes, que o auxiliaria. Quando retornou à residência na segunda-feira passada, enxergou aí a oportunidade que queria. Aguardou apenas a chance para descarregar a insatisfação.

3. A morte de Olga
Por volta das 12h, tem início uma discussão entre João Batista e Olga Cruz - as únicas pessoas presentes na casa. "Ela me chamou de vagabundo e começamos a discutir", disse o jardineiro. Segundo ele, na briga ela o teria atacado primeiro com unhadas no pescoço. "Não contei conversa e fui na cozinha pegar uma faca. Estava em fúria, fora de mim. Não contei quantas facadas foram. Mas vocês tão dizendo aí que foram 50, pode ter sido. Estava cego de raiva e simplesmente atacava ela", relatou.

Após as facadas, a mulher não resistiu à gravidade dos ferimentos e morreu no local. "Chamei minha mulher para ela me ajudar a desfazer o que tinha feito. Mas não tinha mais saída", afirmou. Marlene Eugênio Gomes chegou pouco depois à residência, acompanhada do filho de 13 anos de idade. "Ficamos esperando Tatiana, principalmente para pegar o carro". Tatiana Cristina Cruz de Oliveira era filha de Olga e havia marcado de ir pegar a filha de 10 anos de idade na escola e, logo depois, ir para  casa. 

"Quando ela chegou, achou muito estranho tudo. Perguntou pela mãe e logo falamos que estava morta. Logo depois, pegamos ela e a filha e a levamos para o quarto", contou o jardineiro. 

4. A tortura

Tatiana e a filha de 10 anos de idade foram levadas ao quarto. Nesse momento, de acordo com depoimento prestado à polícia, João Batista era auxiliado pela companheira, que segurava a criança, para que o homem tivesse liberdade de ação. Agitada, Tatiana foi agredida e ficou ferida. "A filha dela mesmo dizia que era melhor atender o que a gente tava pedindo. Assim, amarrei Tatiana sozinho sem nenhum problema", afirmou o jardineiro. 

Após tornar Tatiana imóvel, teve início a sessão de tortura. O corpo da mulher foi encontrado com feridas superficiais e outras profundas, em pontos críticos do corpo, como o pescoço. O objetivo do casal criminoso era conseguir que a vítima revelasse a senha bancária. "Após muitas ameças, a própria menina falava para a mãe dar a senha. Tatiana pediu um papel e um lápis e escreveu a senha, a conta e as letrinhas", disse João Batista.

A senha foi utilizada na terça-feira, dia seguinte ao crime. Danúzia Freitas Valcácia, nora de Marlene Gomes, ficou encarregada de ir sacar algum dinheiro. Para isso, ela foi a um supermercado no bairro do Alecrim. "Ela foi lá para sacar tudo que tinha na conta. Tirou R$500", confirmou João Batista. Detida, Danúzia se negou a conceder entrevista e esclarecer o suposto envolvimento no caso.

5. Ameaças à menina

A filha de Tatiana, uma criança de 10 anos de idade, foi testemunha ocular da morte da mãe. Na cena do crime, sofreu violência tanto de Marlene quanto de João Batista. Coube a Marlene segurar a menina e por vezes ameaçá-la para que o plano de roubo desse certo. Ao fim da sessão de tortura, o casal criminoso concluiu que não podia deixá-la viva. "Ela tinha visto tudo. Foi quando fui no quarto e pressionei o seu rosto contra o travesseiro. Ela parou de se mexer e vi que o coração tinha parado de bater. Acreditava que ela tinha morrido, até que vi no outro dia na televisão que ela estava viva. Confesso que fiquei feliz", disse João Batista. 

O fato de a menina ter sobrevivido possibilitou que se descobrisse a morte da sua mãe e avó. Duas horas depois de ser atacada, ela acordou e saiu da casa, vagando pelas ruas próximas. Foi encontrada ferida por vizinhos, que a encaminharam a uma unidade médica. Foi somente na manhã da terça-feira, dia seguinte à prática dos crimes, que os moradores próximos e a polícia descobriram o que havia ocorrido. 

O forte impacto emocional motivou o Ministério Público Estadual a tomar atitudes. Através da Promotoria da Infância de Parnamirim, o MP destinou acompanhamento psicológico e jurídico para a menina e os seus familiares. O primeiro atendimento com um psicólogo ocorreu durante a sexta-feira passada. Além disso, o Ministério Público tomou medidas para garantir a vida da testemunha ocular do crime.

6. A cumplicidade da companheira

Marlene Eugênio Gomes assistiu a todo o crime e colaborou indiretamente para a sua prática. Essa foi a conclusão à qual a polícia chegou após colher depoimentos durante a tarde de ontem. Ela foi chamada pelo companheiro, com quem vive há sete anos, para ir à residência e encontrar uma saída para o crime praticado em Nova Parnamirim. "Eu tinha minha consciência tranqüila. 

Não tinha medo de ser pega. Sei que não fiz nada. Apenas fiquei lá assistindo. Até protegi a menina quando ele [João Batista] quis atacá-la. Depois, ele mandou eu ir lá para fora e não sei o que aconteceu", relatou.

As informações repassadas por ela foram contestadas pelo próprio companheiro durante depoimento prestado na delegacia. Segundo João Batista, ela segurou a menina e facilitou as ações de violência dele contra Tatiana. É provável que a menina tenha sido alvo de ameaças para que a mãe pudesse colaborar com os criminosos. O jardineiro esclareceu também que Marlene chegou a agredir a menina para que ela se acalmasse e não atrapalhasse o crime.

7. A fuga

O carro modelo Ford Fiesta de cor vermelha e placas MZJ-7579 foi o meio utilizado para dar fuga aos criminosos. O veículo financiado no nome de Olga Cruz levava ainda, em seu interior, os produtos do roubo na casa. De lá, foram levados televisão, aparelhos de som, computador portátil, filmadora, joias e eletrodomésticos, dentre outros objetos e equipamentos. Tudo foi encontrado ontem na casa em São Gonçalo do Amarante, onde estava João Batista, Marlene e Danúzia.

O veículo foi encontrado apenas na madrugada da quinta-feira passada, em Santo Antônio dos Barreiros, distrito de São Gonçalo do Amarante. Guarnições do 11º Batalhão da Polícia Militar realizavam patrulhamento de rotina pelo local, quando o encontraram por volta da 1h da madrugada da quinta-feira. Chamou atenção as avarias registradas no veículo. O para-brisas estilhaçado, assim como o vidro dianteiro direito. Os quatro pneus estavam furados e arranhões eram percebidos pela lataria. 

8. Exibicionismo

A vida do assassino confesso de duas mulheres com requintes de crueldade parece não ter sofrido alterações significantes. O remorso e arrependimento declarado por João Batista não encontrou coerência nas fotos cedidas pela Delegacia-geral da Polícia Civil. Na tarde de ontem, através da assessoria de comunicação, a Degepol cedeu fotografias que demonstram exibicionismo do casal criminoso. Na casa para onde haviam se mudado, em São Gonçalo, os produtos do roubo já estavam expostos. A televisão e aparelhos de som eram utilizados corriqueiramente. Nas imagens, ostentavam o revólver calibre 32 que João Batista adquiriu no domingo passado, "para se proteger de inimigos", segundo o exposto por ele. 

Marlene e Danúzia, as outras duas envolvidas no caso, também aparecem mostrando a arma e fazendo poses. Através das datas registradas nas fotografias, é possível notar que foram feitas após o duplo homicídio. E mesmo assim, não há sinais de tristeza ou remorso.

9. Investigações

João Batista Caetano Alves, Marlene Eufrânio Gomes e Danúzia Freitas Valcácia foram detidos em flagrante. Na casa onde foram encontrados, estavam objetos de roubo, o que caracteriza a receptação. Além disso, foram autuados por formação de quadrilha e porte ilegal de arma de fogo. A Polícia Civil pedirá a prisão preventiva dos três pelo envolvimento nos assassinatos. Eles poderão responder por homicídio, latrocínio - com agravante de tortura - e tentativa de homicídio. O menor  que assistiu aos crimes foi liberado mas poderá ser convocado pela polícia.

Cronologia do crime

12h do dia 7 de maio - Olga Cruz e João Batista iniciam uma discussão. Ele reclama de ser menosprezado e que Olga o acusava de pequenos roubos. Durante a discussão, Olga teria arranhado seu pescoço, o que motivou a fúria do jardineiro. Ele pegou uma faca na cozinha da residência e passou a atacar a mulher. Foram contabilizadas pelo Instituto Técnico-científico de Polícia (Itep) que foram desferidas mais de 50 facadas.

12h30 - João Batista, assustado com as consequências do crime, chama a companheira para lhe ajudar. Marlene Eugênio Gomes chega à residência, acompanhada do seu filho de 13 anos, enteado do jardineiro. O corpo de Olga é levado da cozinha para a despensa. O jardineiro, sua mulher e o adolescente passam a aguardar Tatiana Cruz, filha de Olga, que chegaria em instantes.

13h30 - Tatiana Cruz chega de carro na residência de número 464, na rua Antônio Lopes Chaves, acompanhada da filha de 10 anos de idade. Pergunta por Olga e acha estranho a resposta dada pelo jardineiro e seus parentes. A partir daí, é abordada, rendida e alvo de violência.

14h - Tem início a sessão de tortura. Marlene rende a criança e a utiliza como instrumento de ameaça para a colaboração da sua mãe Tatiana, que não esboça reação no sentido de chamar atenção da vizinhança. É amarrada a uma cadeira no quarto e amordaçada. Sofre facadas e pancadas. O casal de criminosos quer que ela revele a senha da conta bancária.

14h30 - Pressionada pela filha, Tatiana anota a conta e a senha do Banco do Brasil para que os criminosos sacassem o dinheiro. O casal rouba equipamentos como computador, som, televisão e joias e os colocam no carro das vítimas.

15h - No momento de deixar a casa, João relatou que ouviu Tatiana pedir socorro. Foi então quando a atingiu fatalmente. Ele disse que não poderia deixar testemunha e sufocou a filha de Tatiana, uma criança de 10 anos, com um travesseiro. Pensou que ela havia morrido e fugiu.

17h - A menina acorda, sai da casa e é encontrada por vizinhos. Machucada, a criança é levada para atendimento no Hospital Walfredo Gurgel. Moradores acham estranho a mãe não estar em casa, mas não consegue encontrá-la. 

9h do dia 8 de maio - Vizinhos entram na casa para pegar roupas para a criança e se deparam com os corpos. A Polícia Militar é acionada e constata a ocorrência. Itep e Polícia Civil comparecem ao local para dar início às investigações do caso.



Fonte: Tribuna do Norte

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